Dirigentes da Chapecoense, da atual gestão e da anterior, elogiaram nesta quinta-feira (17) o trabalho dos senadores da CPI que apura as responsabilidades pelo acidente aéreo de 2016, em Medellín, na Colômbia, com o time que ia disputar a final da Copa Sul-Americana. Em audiência pública interativa, o atual presidente, Nei Roque Mohr; seu antecessor, Plinio David de Nes Filho; e o diretor do clube, Alex Boff Passos, defenderam a postura do clube em relação às famílias das vítimas do desastre, em que morreram 71 dos 77 ocupantes da aeronave.
As famílias reclamam na Justiça indenizações pelo acidente e culpam, tanto o clube, quanto as empresas seguradoras, pelo não pagamento. A Chapecoense alega dificuldades financeiras, em parte provocadas pelo desastre aéreo. No final do ano passado, o clube entrou na Justiça com um pedido de recuperação judicial, regime em que o pagamento de dívidas é suspenso para impedir a entidade de fechar as portas.
Falando remotamente, Plínio de Nes, que comandou o clube catarinense entre 2017 e 2019, disse que o "fez o que poderia fazer", e que chegou a acordos com "aproximadamente 90% das famílias", gastando quase R$ 46 milhões. Ele concordou com os senadores Jorginho Mello (PL-SC), presidente da CPI; Esperidião Amin (PP-SC) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) em relação à necessidade de fazer as seguradoras assumirem o encargo das indenizações.
— As seguradoras, quero esclarecer, realmente falharam com a Chape. Deixaram a Chape sozinha. Se nós não tivermos as seguradoras respondendo por aquilo que devem para as famílias, para a Chapecoense, vai ser difícil uma solução — disse o dirigente.
Nei Roque Mohr, atual presidente, afirmou que o clube é vítima, não culpado, pela situação.
— No nosso país a vítima passa a ser o culpado. E é o caso da Chapecoense. Sempre foi ela que respondeu moralmente e financeiramente pelo acidente. Nunca ninguém deu apoio. Muitos acham que a Chapecoense quer dar o calote. Muito pelo contrário: ela quer honrar todos os compromissos com as famílias e os credores. Mas para isso precisamos nos organizar, pois o orçamento é limitado — explicou.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) perguntou se a Chapecoense poderia aderir ao novo regime da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), aprovado pelo Senado no ano passado e transformado em lei, para sair da crise e indenizar as famílias das vítimas. Alex Boff Passos, membro da diretoria, disse que, por ser um clube modesto do interior catarinense, a Chapecoense só encontrará um investidor — que ele comparou a um "príncipe do cavalo branco" — depois de sanear suas finanças.
— Acho que, para solucionar, o ideal era arrumar um investidor agora, e não depois. Espero até que a gente possa aqui, com esta audiência, atrair aí algum investidor, esse "príncipe do cavalo branco" — opinou Izalci.
Segundo Passos, ainda há 42 ações na Justiça do Trabalho, que, se perdidas, representariam R$ 80 milhões a pagar. Ele anunciou que nos próximos dias será apresentado o plano de recuperação do clube, etapa obrigatória do processo de recuperação judicial. O diretor da Chapecoense estimou a dívida atual do clube em R$ 86 milhões, e em R$ 22 milhões o débito com o fisco.
— Nosso fluxo de caixa mensal estava em R$ 8 milhões negativos por mês. São 140 funcionários que dependem da Chapecoense. Esta CPI pode ser um elemento fundamental nessa solução — elogiou Passos.
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