Um intercâmbio de técnicas e de conhecimentos profissionais, promovido pelo Governo do Estado do Pará, vai transformar vidas a partir deste último sábado (20). É que um procedimento cirúrgico de traqueostomia, realizado no Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), localizado na Grande Belém, deve recuperar a qualidade de vida de quem enfrenta problemas de falta de ar, cansaço excessivo e fraqueza muscular, em função das sequelas da Covid-19. O serviço, que é referência internacional na unidade e que atrai pessoas de outros lugares até a capital paraense, este mês, completa cinco anos de funcionamento.
A intervenção cirúrgica, que deve tratar duas estenoses complexas na traqueia, adquiridas pós-Covid, faz parte do Programa de Cirurgia de Traqueia, coordenado pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Como já ocorre desde 2016, o procedimento foi acompanhado por três especialistas de outros estados brasileiros, para a troca de conhecimentos, em prol da recuperação do paciente.
Esperança
No sábado (20) duas cirurgias do Programa foram realizadas no Galileu. E uma delas, em um paciente que sofre com sequelas deixadas pelo novo coronavírus. No dia 27 de fevereiro deste ano, o chefe de cozinha E. S.C, de 42 anos, foi diagnosticado com a Covid-19. Sem reagir ao tratamento em casa, quatro dias depois, ele foi internado no Hangar, onde permaneceu 85 dias. Neste período, o paciente passou uma semana na enfermaria, e logo seu quadro respiratório se agravou, sendo, imediatamente, encaminhado para Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde foi intubado por três vezes.
Ao longo dessa extensa internação, o paciente ainda ficou em coma por 35 dias e chegou a perder 40 quilos. Apesar de ter passado por momentos difíceis, ele venceu a batalha contra a covid-19, mas ficou com sequelas que as debilitam e reduzem sua qualidade de vida. O chefe de cozinha, que está afastado de suas atribuições profissionais, apresenta dificuldades para falar e deglutir, além de se queixar de um cansaço excessivo, dentre outros acometimentos clínicos, ocasionados pelo uso prolongado do uso dos aparelhos. E com a cirurgia, ele mantém a esperança de corrigir os desvios na traqueia.
Procedimento
A traqueostomia mediastinal, ou de Sisson, é um tipo de procedimento raramente realizado. Geralmente, a equipe médica o indica quando há lesões avançadas que acometem a traqueia do paciente. “Em apenas um dia, dois pacientes passam por traqueostomia. Um deles foi acometido com a covid-19 e faz parte da população de pessoas ficaram intubados por muito tempo e acabam tendo complicações da doença e da intubação”, explicou o cirurgião torácico Roger Normando Jr.
O médico garante que, após o procedimento, as pessoas terão suas vidas transformadas positivamente. “Esses pacientes que fazem a traqueostomia, pouco falam, fazem funções fisiológicas, como defecar e urinar com dificuldades. Eles não mantêm relações sexuais, e quando mantém, também é com dificuldade. A partir desse procedimento, eles serão ressocializados, pois não falam e respiram por um aparelho”, enfatizou o cirurgião.
“A cirurgia foi aberta e com uma particularidade: a lesão tratada foi no interior do tórax, entre os vasos sanguíneos, coração, esôfago e com 9 horas de duração”, acrescentou o médico que, junto ao cirurgião Ajalce Janahú e Marco Antônio, integram a equipe de traqueo do Hospital Galileu.
Conhecimentos
O Programa já é referência internacional. Ao longo da execução deste serviço, o Hospital Galileu já recebeu a visita de profissionais canadenses por duas vezes e, ainda, mais de 20 cirurgiões de todas as regiões do país. Desta vez, entre a equipe de visitantes, o cirurgião Artur Gomes Neto, diretor médico da Santa Casa de Maceió, em Alagoas, e também o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT).
"Eu já conheço o Hospital Galileu desde o início das cirurgias da traqueia, idealizado pelo Governo do Estado. Agora, estou como representante da Sociedade para atestar a importância do programa, que ocorre com exclusividade no Estado do Pará. Isso é algo muito importante no ponto de vista científico e na atitude do Governo em oferecer o tratamento, que é uma cirurgia extremamente difícil e que são poucos serviços no Brasil que as executam", ponderou o presidente.
Nessas visitas, além do compartilhamento de técnicas, existe a troca de conhecimentos, que beneficia, sobretudo, o serviço prestado aos usuários. "Esse intercâmbio acaba gerando a participação ativa de nossos profissionais em eventos médicos e em congressos brasileiros, relacionados ao tema. Esse fluxo é muito importante para desenvolver novos mecanismos e o aprimoramento de técnicas usadas nas intervenções. Hoje, o Galileu é referência em um tratamento que muda vidas para melhor e, por isso, é reconhecido por isso na comunidade científica médica mundial", destacou Alexandre Reis, diretor executivo do Hospital Galileu.
Comemoração
A unidade, referência da Rede de Saúde Estadual em tratamentos de lesões na traqueia e traumas, sedia este tipo de procedimento desde novembro de 2016. “Antes disso, não havia um programa específico para essas pessoas. Elas eram operadas em vários hospitais diferentes, e assim, a fila crescia. Foi quando o serviço, em outubro foi criado, e passamos a realizar as cirurgias em novembro”, relembra o idealizador do programa, cirurgião Ajalce Janahú.
Para o secretário estadual de Saúde Pública, Rômulo Rodovalho, a iniciativa é um referencial na rede de saúde do Estado. "O Galileu é uma das poucas unidades do Brasil que opera esse tipo de procedimento. O serviço mostra o empenho do Governo do Estado em se especializar cada vez mais para prestar uma assistência de saúde de qualidade, eficiente e assertiva. Tudo isso, oferecido de pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para os paraenses de todas as regiões", frisou o titular da pasta.
Texto:Roberta Paraense
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