Aos 43 anos, Leônidas Carvalho comemora as chances que recebeu da vida. Aos 8 anos de idade, ele foi vítima de um acidente doméstico que até hoje, não possui muitas explicações. “A única coisa que eu sei é que meu filho pegou um tiro de uma espingarda caseira na região do rosto, quando ele estava na casa do pai. Ninguém sabe o que exatamente aconteceu, pois ele estava com várias crianças e sem adultos por perto. Ele ficou sem sentir cheiro, sem emitir sons totalmente. O chumbo destruiu toda a região da face e, de lá pra cá, travou diversas batalhas”, relembrou a dona de casa Maria de Lourdes, 65 anos, mãe de Leônidas.
Ao saber do Programa de Cirurgia de Traqueia, do Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), na Grande Belém, a família de Leônidas procurou uma unidade de saúde municipal, para ele ser regulado para a capital. “Somos do município de Abaetetuba, e lá, ele passou por algumas cirurgias quando ainda criança, mas continuou com as mesmas dificuldades, inclusive, a pior delas: não poder nadar, ficar longe dos rios, que é a base da nossa vida, no interior do Pará”, comentou a mãe.
Leônidas, que já nasceu com deficiência auditiva, ao chegar no Programa do Hospital Galileu, passou por sete intervenções cirúrgicas em quatro anos, e hoje, já consegue emitir sons e sente cheiros.
“Foi muito difícil até aqui, mas quando chegamos ao Galileu, minha esperança era pouca. Mas, os médicos disseram que o tratamento, aos poucos, ia devolver a qualidade de vida do meu filho, e hoje, ele já entra na água, pois tirou a metálica da garganta e é uma pessoa mais feliz, sente o cheiro dos perfumes, da comida e se comunica melhor. Eu sou grata a Deus e por toda essa equipe que me fez acreditar na melhora do meu filho”, agradeceu Maria de Lourdes.
Procedimentos- De janeiro a dezembro de 2021, a unidade registrou 132 intervenções cirúrgicas no Programa. Os números são comemorados pela equipe, com a reaprovação do projeto, em dezembro de 2021, pela Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa).
“Seguimos por mais uma temporada dando voz aos silenciados pelas avarias e sequelas da intubação e por outras mazelas. O programa nasceu para aliviar cerca de 20 pacientes que batiam à porta de hospitais, sem haver eco. A previsão era de seis meses de duração, com provável prorrogação para mais seis. Ao longo da jornada ele precisou esticar, por conta da necessidade de contemplar o interior do estado”, destaca o cirurgião torácico Roger Normando Jr, do Hospital Galileu.
“Também surgiram as estenoses da laringe – espécie de “terra de ninguém” -, envolvendo a glote e a subglote, assim como os ferimentos cervicais complexos, fruto da violência urbana. Hoje completamos cinco anos aqui. Essa extensão do programa, em que pese torná-lo mais complexo, teve como desfecho positivo o fato de não ter ocorrido transferência de tratamento para outros centros (TFD), e acabamos nos abastecendo da expertise. Isso, para uma política de saúde pode representar vitória não só no plano econômico, mas principalmente humanístico, sem esquecer a contribuição científica e o congraçamento associativo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, pois temos recebido cirurgiões de diversos centros”, completou Roger Normando Jr.
Intercâmbio
Além da devolução da qualidade de vida aos pacientes, o projeto tem promovido um intercâmbio de técnicas e de conhecimentos profissionais, através da iniciativa do Governo do Estado do Pará. “O Programa já é referência internacional. Ao longo da execução deste serviço, o Hospital Galileu já recebeu a visita de profissionais canadenses por duas vezes e, ainda, mais de 20 cirurgiões de todas as regiões do país. Neste ano, entre a equipe de visitantes tivemos a presença do cirurgião Artur Gomes Neto, diretor médico da Santa Casa de Maceió, em Alagoas, e também o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT)”, lembrou Alexandre Reis, diretor executivo do Galileu.
Ao longo do ano, dentro do Programa da Traqueo, o Hospital Galileu também realizou procedimentos de alta complexidade na traqueia de pacientes com sequelas da Covid-19.
“Os números de cirurgias contemplam todo o ano, que, assim como 2020, foi desafiador na saúde pública em função da pandemia. Tivemos de suspender as cirurgias eletivas por um período e retomá-las, totalmente, já no segundo semestre, já com casos de pessoas que foram afetadas pela Covid-19. Por conta da sua complexidade, o Galileu se mantém como referência do Governo do Estado em traqueoplastia, o qual atende pessoas da capital e do interior paraense”, observou o secretário de saúde Estadual, Rômulo Rodovalho.
Esperança
As cirurgias recuperam a qualidade de vida de quem, por alguma intercorrência na traqueia, enfrenta problemas de falta de ar, cansaço excessivo, fraqueza muscular, dificuldades na fala e na deglutição de alimentos.
"Eu já conheço o Hospital Galileu desde o início das cirurgias da traqueia, idealizado pelo Governo do Estado. Agora, como representante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), atesto a importância do programa, que ocorre com exclusividade no estado do Pará. Isso é algo muito importante no ponto de vista científico e na atitude do Governo em oferecer o tratamento, que é uma cirurgia extremamente difícil e que são poucos serviços no Brasil que as executam", ponderou o presidente do SBCT, cirurgião Artur Gomes Neto.
Texto:Roberta Paraense/Ascom Hospital Galileu
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