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Fundação Santa Casa reforça o debate sobre Entrega Voluntária para Adoção

Com o apoio da Vara da Infância e da Juventude, a adoção proporciona benefícios a crianças e mães biológicas

08/01/2022 às 01h10
Por: Lammego Rádio Fonte: Secom Pará
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Foto: Reprodução/Secom Pará
Foto: Reprodução/Secom Pará

“Bebê é encontrado abandonado em lixeira”; “Gestante e bebê vêm a óbito após tentativa de aborto em clínica clandestina”. A imprensa abre manchetes que desnudam uma realidade cruel, que poderia ser diferente se a sociedade começasse a debater, com a responsabilidade que o tema requer, a “Entrega Legal para Adoção”, para que toda a  informação correta chegue principalmente às mulheres.

A Entrega Legal para Adoção ocorre quando a gestante ou mãe de recém-nascido com menos de 45 dias de vida manifesta, espontaneamente, a vontade de entregar o filho para adoção. A equipe da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, que administra a maior maternidade pública do Pará, com o registro de quase 700 partos por mês, vivencia esse tipo de problema.

A partir da esquerda, psicóloga Silvia Maués; assistente social Silvia Rocha; assistente social Elizabeth Freire e psicóloga Luiza Lobato
A partir da esquerda, psicóloga Silvia Maués; assistente social Silvia Rocha; assistente social Elizabeth Freire e psicóloga Luiza Lobato - (Foto: Helder Ribeiro / Ascom FSCMP)

Segundo Luiza Lobato, psicóloga da Fundação Santa Casa, que integra a rede de apoio a essas mulheres, “observamos diversos motivos que levam uma mulher a tomar a decisão da entrega voluntária. Dentre eles temos a situação socioeconômica desfavorável, em que a mulher já possui vários filhos e não tem condições de arcar com a despesa da criação de mais um filho, ou ela é moradora de rua e não possui uma infraestrutura familiar adequada para criar o bebê. Outro motivo que nós observamos é a gestação proveniente de violência sexual. Na verdade, essa gestação se torna um peso para essa mulher; é a lembrança de um fato traumático, em que ela rejeita este filho. Nós temos também a gestação indesejada de homossexual, onde a mulher, em algum momento, traiu sua companheira, se envolvendo em outra relação, engravidou e esse filho não cabe naquela relação. Existe também a gestação não planejada, em que a mulher é portadora de alguma patologia crônica degenerativa, e a vida de um filho vai ocasionar um transtorno maior, até porque essa mulher tem uma sobrevida curta e incapacitante”.

No momento em que uma mulher manifesta o desejo de doar o filho, independentemente da motivação, imediatamente a equipe psicossocial do hospital é acionada para fazer o atendimento com assistentes sociais e psicólogas. Tudo ocorre de maneira discreta e humanizada, sem causar constrangimento algum à mulher. “A mãe dá entrada no hospital e pode manifestar esse desejo em qualquer momento. O importante é que a equipe multiprofissional já está ciente. Afinal, ela pode manifestar o desejo de fazer a entrega para doação para uma técnica de enfermagem, médica, enfermeira ou qualquer profissional. De imediato, eles acionam o Psicossocial, que realiza o acolhimento, a primeira escuta, com o objetivo de estabelecer vínculo e obter as informações necessárias para garantir os direitos da paciente. A gente tem, no mínimo, 48 horas para trabalhar essas informações e fazer o relatório e o encaminhamento”, informa Silvia Rocha, assistente social da Fundação Santa Casa.

Confirmada a intenção, o hospital preenche um formulário-padrão para comunicar oficialmente o caso ao Juizado da Infância e Juventude, para que todas as providências legais sejam tomadas.

Ato de amor- Julgamentos e preconceitos recaem sobre a mãe que entrega seu filho para a adoção, e isso acaba desencorajando essa decisão. “Essa doação é um ato de amor, de responsabilidade, de altruísmo e respeito ao ser humano. Ela preferiu doar a realizar um aborto ou abandonar em uma lixeira, no meio da rua. Nessa perspectiva, ela deve ser acolhida, compreendida, apoiada e orientada corretamente, a fim de que a sua decisão seja legitimada e respaldada pela lei”, ressalta a psicóloga Luiza Lobato.

Superar preconceitos não é tarefa fácil. Por isso o debate é necessário, para que as mães saibam como agir e recebam um tratamento justo, enquanto as crianças serão acolhidas em um ambiente saudável, com carinho, apoio e respeito.

As mães solidárias oferecem carinho e aconchego aos bebês antes da adoção
As mães solidárias oferecem carinho e aconchego aos bebês antes da adoção - (Foto: Helder Ribeiro / Ascom FSCMP)

Pais Solidários- Algumas mães cortam totalmente a possibilidade de criar algum vínculo com seu bebê. Para esses casos, foi criado na Santa Casa o projeto “Pais Solidários”, que permite a profissionais de saúde desempenharem o papel de cuidadores dos bebês durante os trâmites legais da adoção. Todos os cadastrados são voluntários, e preenchem um termo de responsabilidade para cuidar da criança, inclusive reforçando a importância do sigilo da função. Eles passam por um processo de triagem para se habilitar à tarefa.

Profissional da instituição há 34 anos, uma servidora voluntária fala da experiência como cuidadora. “Cheguei lá as 18h30 e, quando peguei aquela criança no colo, senti que ela precisava de carinho. Já tinha shampoo e toalhinha, e dei o primeiro banho. Não consegui deixar ela dormindo sozinha no berço. Coloquei ela junto comigo e fiquei como se fosse a mãe dela, deitada na cama, juntinho. Acordava 3 horas da manhã e 6 horas da manhã para dar o leitinho no copinho. Eu falava com essa criança a noite toda, como se eu fosse a mãe dela. Orei por ela. Mas aí o plantão chegou ao fim. Outra colega assumiu o posto, e depois de algumas horas ela avisa pra mim que a criança já estava indo embora. Quando eu subi para vê-la e me despedir, entrei falando no leito. Quando ela escutou minha voz, ficou me procurando. Eu peguei ela no colo e tive o prazer de dar um adeus. Estamos lá para cumprir o nosso papel como profissional. Mas essa é uma experiência que vou levar para o resto da vida”, relata a servidora.

Por Governo do Pará (SECOM)
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