Peças do acervo do Sistema Integrado de Museus e Memórias (SIMM), da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), especificamente do Museu do Círio e do Museu do Estado do Pará (MEP), vão compor a exposição nacional “Raio-que-o-parta: Ficções do moderno no Brasil”, que reflete as diversas iniciativas modernistas no Brasil além da década de 1920, com obras do final do século XIX e meados do século XX. O evento é alusivo ao centenário da Semana de Arte Moderna.
A mostra tem curadoria do professor paraense Aldrin Figueiredo, de Clarissa Diniz, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos e Raphael Fonseca, e consultoria de Fernanda Pitta. As peças foram acondicionadas para viagem na manhã desta terça-feira (1º).
A direção do Museu do Círio e sua equipe deram acesso aos seus inventários e catálogos atualizados, em processo de revisão desde 2019. Constam do acervo vários artefatos, como ex-votos, ventarolas e brinquedos de miriti, além de documentos arquivísticos (fichas técnicas, cartazes, programas de festa e fotografias). Entre as peças selecionadas está um dos mantos mais antigos de Nossa Senhora de Nazaré, e o único da lendária mestra Alexandra, que segundo o diretor do Museu do Círio, Anselmo Paes, foi a artesã produtora dos mantos que cobrem a Imagem entre 1925 e 1973.
Círio- “Este é o último manto confeccionado pela mestra Alexandra, figura que cuidou da confecção dos mantos no Colégio Gentil Bittencourt desde a década de 1920 até 1973, atividade que encerra com seu falecimento. Nele há detalhes que mostram que o manto, apesar da simplicidade, era artefato de muito cuidado e devoção por parte da religiosa e artesã. Trabalho feminino, autoral, marcado de tradição, nem sempre visibilizado, mas muito relevante para o imaginário paraense do Círio. A peça não é necessariamente um objeto modernista, mas traz uma série de características que nos mostram a cultura popular brasileira, que foi objeto de muita discussão quando se fala de modernidade, a questão da identidade regional. Acredito que a escolha pelos curadores desse objeto remete muito a essa questão da marca identitária da religiosidade popular, que sempre foi muito valorizada em obras artísticas, tomada como símbolo dessa nacionalidade que estava se formando e abandonando outros símbolos do passado colonial”, destaca Anselmo Paes.
Atualmente, 31 mantos fazem parte do acervo Museu do Círio, um dos principais espaços de divulgação cultural e guarda desta memória. De acordo com o gestor do Museu do Círio, há mantos tanto de Belém quanto do interior do Pará, e ainda mantos artesanais doados como ex-votos.
Do Museu do Estado do Pará foram enviadas lâminas do artista de Castanhal Manoel Oliveira Pastana (1888-1984), entre elas Terrina Marajoara Motivo: Jaboty da Matta (1928); Móveis Motivo: jaboty da matta (1930); Bandeja Motivo: Caranguejo e cofo e Aparelho p/ Café, leite e chá tucano e assahy (1931).
Natureza amazônica- De acordo com a diretora do MEP, Cássia da Rosa, as peças trazem a perspectiva de design que incorpora elementos muito regionais, específicos da natureza amazônica. “O empréstimo de obras de arte entre museus é relativamente comum. É um procedimento usado para construções de grandes exposições de temas relevantes em certo âmbito histórico, obedecendo a todas as normas estabelecidas pelas instituições envolvidas nessa transferência. É interessante a gente pensar nesse acervo que foi selecionado para compor a exposição como uma mostra que questiona essa centralidade do modernismo como sudeste, trazendo não só os curadores, como obras de arte de outras regiões do País. A presença do nosso acervo dentro de uma exposição com essa temática é muito importante para que não só o Sistema Integrado de Museus possa colaborar com essa questão, mas justamente mostrar a relevância pras outras regiões dentro do movimento modernista”, explica Cássia da Rosa.
A exposição “Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil” será aberta no próximo dia 15 de fevereiro, podendo ser visitada até agosto de 2022, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo (SP).
Texto: Josie Soeiro – Ascom/Secult
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