Com um atendimento anual de cerca de 50 mil agricultoras em todos os 144 municípios paraenses e um funcionalismo feminino que supera os 30% do quadro total, mesmo dentro de um contexto de cargos e funções historicamente masculinos, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater) comemora este 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, com um número cada vez maior de lideranças internas, na instituição, e também no campo, com a tomada de projetos, programas e políticas públicas que fortalecem a conscientização e equidade entre gêneros.
“É um trabalho de dia a dia e, ao mesmo tempo, de 56 anos. A assistência técnica e extensão rural oficiais do Governo do Pará significam resultados de curto, médio e longo prazos, que constroem e respondem a necessidades não só imediatas, mas de reparação cidadã de vidas inteiras, de comunidades seculares, sob uma diversidade étnica, econômica e sociocultural que merecia o aplauso de um calendário inteiro”, aponta o presidente da Emater, Rosival Possidônio.
A diversidade compreendida pela atuação da Emater, de norte a sul do Pará, é de mulheres doutoras, mestras, especialistas e técnicas ouvindo e sendo ouvidas por mulheres indígenas, ribeirinhas, colonas, quilombolas e assentadas.
UNIDAS, ELAS SÃO MAIS FORTES
No cotidiano de 16 anos de Emater, a doutora em Manejo Florestal, engenheira florestal, Tangrienne Mener, de 45 anos, desbrava a Amazônia, em caminhos de resistência e preconceitos: “Desde a faculdade, o meio rural é patriarcalizado, sim. Cada mulher que resolve pegar em um livro da área, que herda uma enxada e um trator, puxa para si um tempo incontável de machismo e de ideias equivocadas. Nós somos protagonistas de uma revolução”, afirma.
Em sua jornada, ela viu a Emater se transformar, com as duas primeiras presidentes mulheres e muitas outras colegas em cargos de chefia: “São exemplos maravilhosos - e a representatividade é um processo maravilhoso. Uma menina que me vê como doutora não vê só uma doutora: vê que é possível uma mulher se tornar engenheira florestal e depois concluir doutorado. Quando houve presidentes mulheres na Emater, eu me senti feliz, porque ali a gente percebe a via da oportunidade para todas”, explica.
No atendimento em campo, Tangrienne Mener conta sobre a receptividade das agricultoras: “É um elo de empatia e de confiança, talvez uma verdadeira sororidade. Você se identifica espelhada e entende dificuldades e potencialidades próprias”, balanceia.
LUGAR DELAS
Uma das atendidas pela equipe da qual Tangrienne faz parte, o escritório local de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB), é a quilombola Vivia Cardoso, 40 anos, do Território do Abacatal, na Estrada Santana do Aurá. A comunidade matriarcal é formada por 128 famílias: 90% delas chefiadas por mulheres.
“Nossa tradição quilombola é mulher na liderança. Isso vem da ancestralidade, do sangue. A força da mulher é um combustível imprescindível da nossa mentalidade. Até as mulheres casadas são as chefes de família: isso quer dizer que gerenciam o dinheiro, são a palavra final na criação dos filhos, vivem com independência emocional e profissional”, minucia a agricultora.
Praticante de umbanda, da vertente afrobudígena Nação Muzungue, na qual é conhecida como Yaô (“Filha de Santo”, no idioma iorubá) “Makínì”, como agricultora trabalha, em família, com açaí, cupuaçu e plantas medicinais, entre outras atividades.
As plantas medicinais servem também às práticas de sincretismo religioso: “Uma integração de conhecimento popular e contribuições da Emater sobre o cultivo”, afirma.
Vívia não quer ser uma inspiração “de passagem”: “Nós aqui somos uma força que provamos que podemos ser seguidas. Existe uma frase justa: ‘o melhor exemplo não é o que você fala, é o que você vê’”, opina.
No Abacatal, vejamos, são mulheres à frente de mais de 300 anos de existência e mais de 500 hectares de agricultura familiar, entrecortados pelo igarapé Uriboca.
Os principais produtos são acerola, açaí, banana, farinha d’água, laranja, maniva, plantas medicinais, pupunha e tucupi, com acompanhamento da Emater há mais de três décadas.
*Texto de Aline Miranda
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