BRASÍLIA — A dezesseis dias do prazo final para que ministros-candidatos deixem os cargos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) avisará a equipe de sua intenção de escalar substitutos “tampões” para o lugar de quem for disputar as eleições de outubro. Bolsonaro convocou reunião ministerial para a manhã desta quinta-feira, 17, no Palácio da Alvorada, com o objetivo de ouvir os titulares sobre suas indicações, mas já tem uma estratégia traçada. Dos 23 ministros, até dez devem deixar a Esplanada até o fim deste mês.
O “plano A” do presidente é entregar os ministérios a secretários-executivos das pastas, embora o Centrão também esteja de olho nas cadeiras que ficarão vazias. Bolsonaro escalou ministros de peso, como Tereza Cristina (Agricultura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), para concorrer ao Senado porque o governo enfrenta muitas dificuldades naquela Casa.
A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, disse que todos os pré-candidatos devem sair juntos. “Provavelmente, todos no dia 30, em um ato só”, afirmou ela. O prazo para desincompatibilização de quem ocupa cargos públicos vence em 2 de abril, seis meses antes das eleições.
Dois nomes já são dados como certos na nova equipe: o do chefe de gabinete de Bolsonaro, Célio Faria Junior – que deve assumir a Secretaria de Governo no lugar de Flávia, candidata ao Senado pelo Distrito Federal –, e o do secretário-executivo do Ministério da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, na vaga de Tarcísio de Freitas. O ministro vai se filiar ao PL, mesmo partido de Bolsonaro, e será candidato ao governo de São Paulo.
Faria Júnior é da Marinha e tem perfil discreto. Já Sampaio, além de contar com a bênção de Tarcísio, é genro do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos.
Como mostrou o Estadão, Faria Júnior foi apontado por ruralistas como “ponte” para a reunião com pecuaristas que levou ao Planalto potenciais doadores de campanha.
De saída do cargo, Flávia Arruda articula nos bastidores formas de “manter digitais” sobre a pasta que deve ser entregue ao chefe de gabinete de Bolsonaro. Os dois têm uma relação distante e a pré-candidata ao Senado tem interesse em deixar no ministério auxiliares de sua confiança.
A pouca experiência de Faria Júnior no trato direto com o Congresso, principal atribuição da pasta, é minimizada por interlocutores do governo. “O orçamento está todo comprometido e ano eleitoral tem uma série de vedações. Será agora um ministério de transição, até as eleições”, disse o deputado Capitão Augusto (SP), vice-presidente do PL.
Para o ministério do Trabalho e Previdência, um dos cotados para assumir a vaga de Onyx Lorenzoni, que vai concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, é o atual Secretário de Previdência da pasta, Leonardo Rolim. Ele também é ex-presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Rolim tem a confiança do presidente, embora sua gestão no INSS tenha sido duramente criticada, nos bastidores do governo, pela dificuldade de reduzir a fila de beneficiários.
Há, ainda, grande expectativa sobre o destino do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, cotado para ser vice na chapa de Bolsonaro. O general é considerado o nome natural para a dobradinha desde que o presidente confirmou a pré-candidatura ao Senado da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Até então, Tereza era a indicada do Centrão para a vaga.
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o comandante do Exército, general Paulo Sérgio, pode vir a substituir Braga Netto. “Vamos aguardar, pode ser o comandante do Exército, pode não ser”, disse Mourão.
Onyx tentou emplacar na Agricultura o senador Luiz Carlos Heinze (Progressistas-RS), que integrou a tropa de choque do Planalto na CPI da Covid, com o objetivo de tirá-lo da corrida ao governo gaúcho. Ao Estadão, Heinze negou que vá recuar na pré-candidatura ao Palácio Piratini. “Se eu quisesse o ministério, teria pedido em 2019”, disse ele.
Quem está em alta para assumir a pasta, com o aval de Tereza Cristina, é o secretário-executivo Marcos Montes – ex-deputado federal e filiado ao PSD de Gilberto Kassab.
Quatro ministros iriam disputar as eleições, mas desistiram. Fábio Faria (Comunicações), Marcelo Queiroga (Saúde), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) permanecerão no governo. Heleno trabalhava para ser vice na chapa de Bolsonaro, mas não obteve respaldo.
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