Em fevereiro, dez piscicultores de Gurupá, no Arquipélago do Marajó, receberam de R$ 30 mil a R$ 110 de crédito rural, da linha Custeio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), pela atuação conjunta da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater). O dinheiro já está sendo aplicado em diretrizes de despesas nas propriedades, a exemplo da compra de ração.
A criação de peixe é uma das pontas de uma cadeia produtiva substantiva, de pesca artesanal e aquicultura, com milhares de famílias em todos os 144 municípios do Pará, ajudando a alimentar milhões de pessoas aqui e além, pela cercania do Pará e na exportação brasileira.
De onde vem o peixe que você come?
Para que espécies de mar, rio, açude e igarapé cheguem como iguarias nas mesas de todo o Pará, e até fora do Estado, existe um caminho de histórias de pessoas, políticas públicas e de meio ambiente sustentável.
Em Portel, no Marajó, por exemplo, a assistente social, Carline Barboza, de 40 anos, come acará, filhote e pescada pelo menos duas vezes por semana. “Frito ou assado de forno. Para açaí é um acompanhamento ideal”, saliva.
Na introdução alimentar do único filho, Pedro Neto, de um ano e meio, peixes no geral são bastante valorizados: “Por uma questão de riqueza nutricional e também porque é uma valorização da nossa cultura e da nossa terra”, diz Carline.
Essa proteína tão importante nas refeições da Família Barboza não cai do céu, nem sobe da terra; a mágica é outra, de atuação integrada entre o Estado e a sociedade civil.
Com o apoio de órgãos como a Emater, a cadeia produtiva do pescado, uma das mais relevantes da socioeconomia da Amazônia paraense, é uma herança de tradição e circunstância.
Base
Portel, onde Carline Barboza mora, compra e consome peixe, é um dos destinos da produção em tanques-escavados no Sítio Novo Progresso - 50 hectares à margem do rio Moju, comunidade Santa Luzia, território de Gurupá, município limítrofe.
A principal atividade socioeconômica do casal, Hélio Kleber Correa, 40, e Luzivane dos Reis, 25, é a piscicultura, com foco em pirapitinga, tambaqui e o híbrido tambatinga. São cinco tanques, em dois hectares de lâmina d’água, com cerca de 10 mil alevinos. A produção anual é de 25 toneladas.
“Nós trabalhamos com extrativismo de açaí junto, mas o carro-chefe é o peixe. A água captamos diretamente do rio, nós temos a influência da maré, que nos abastece de seis a oito meses do ano. Durante esse período, a gente não tem problema, porque essa renovação é natural. Nas outras épocas do ano, precisamos de motor para a troca de água”, detalha Hélio, presidente da Associação dos Piscicultores do Município de Gurupá (Criapirá), que congrega 25 produtores de oito comunidades.
Hélio e Luzivane foram uma das famílias contempladas pela mais recente movimentação de crédito rural. Os alevinos vêm sobretudo de um fornecedor particular de Altamira, no Xingu. “Queremos lidar com mais espécies e, ainda, conseguir ser nossa própria fonte de alevinos, com tecnologia de reprodução”, completa.
Crédito Rural
Desde 2014, o acesso a recursos do Pronaf para piscicultores de Gurupá é uma realidade: “Todo ano recebemos verba para custear a produção: é uma atividade que nos demanda em torno de R$ 10 mil a R$ 12 mil a cada mil alevinos. O desafio agora é retomar as linhas de investimento”, explica o produtor Hélio Correa.
De acordo com o responsável pela elaboração dos projetos, o técnico em agropecuária da Emater, Elinaldo Silva, o objetivo mesmo é associar e sequenciar fontes tanto para custeio, quanto para investimento: “São recursos para ampliar a atividade, colocar mais tanques, alevinos, maquinário e amparar outros gastos de curto, médio e longo prazos. Fazemos um planejamento para que o piscicultor tenha um tempo maior para pagar o financiamento, com carência”, reporta o especialista.
Ações e Estratégias
Conforme panorama do Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento (Mapa), o Pará é um dos maiores recintos comerciais de peixe do Brasil, considerando pesca artesanal e cultivo. Na piscicultura, são mais de 25 mil toneladas por ano (dados de 2020), quanto a espécies nativas e exóticas. ,
A Emater atende mais de duas mil famílias aquicultoras, a maioria delas com alguma ocupação com peixes, sob destaque das regiões do Rio Capim e Tocantins. O cenário inclui algas, camarão e ostras.
A partir deste ano, a inédita linha Pronaf Pescador, legislada em 2021, revoluciona o atendimento, com a parceria da Caixa Econômica Federal (CEF). O crédito por pescador e piscicultor deve ultrapassar os R$ 200 mil.
Em fase atual de alinhamento, a Emater já vislumbra uma demanda imediata de pelo menos 300 famílias de vilas e colônias do Distrito de Mosqueiro, em Belém, e de Almeirim, no Baixo Amazonas, para os próximos meses.
É um momento revolucionário para um estado como o Pará, onde este rio é minha rua e onde o encontro das águas é sempre um espetáculo. Até então, o crédito disponível para essas atividades era limitado, os produtores sentiam-se desmotivados e a cadeia produtiva se engessava", pontua o responsável geral por Crédito Rural da Emater, Thiago Leão.
*Texto de Aline Miranda
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