Um dos principais desafios da nutrição hospitalar é oferecer alimentos seguros e adequados às restrições e necessidades dos pacientes, mas que também tenham sabor capaz de despertar o apetite de quem vai consumi-los.
Essa situação pode ser ainda mais desafiadora em um contexto em que a cultura alimentar da população é rica em diversidade de ingredientes, e que além dos sabores acentuados, o alimento é a expressão da afetividade, das crenças e da própria subsistência, como é o caso do açaí para muitos paraenses.
Foi assim que depois de ouvir as demandas de pacientes que vinham do interior do Estado e precisavam ficar por um tempo prolongado em acompanhamento hospitalar, a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP) passou a disponibilizar porções de açaí para pacientes vítimas de escalpelamento em acompanhamento no hospital, como conta a psicóloga Jureuda Guerra, que fez a escuta inicial das pacientes e encaminhou a solicitação à equipe de nutrição do hospital.
“Essa demanda surgiu da escuta verdadeira do atendimento integral prestado às vítimas de escalpelamento aqui no Espaço Acolher da Santa Casa. Por incrível que pareça, o que trazia mais dificuldade para que essas pacientes na adesão ao tratamento, que é longo, era a questão da alimentação, pois ela também é prazer, cria laços e memórias afetivas, e que no caso de uma pessoa que foi, literalmente, arrancada do seu município e de sua história de vida, e traz um familiar que também está sentindo falta da alimentação. Então, há algum tempo, a gente vem tentando a implementação da inclusão do açaí nessa alimentação e hoje, a Santa Casa conseguiu criar as condições para que esse chegue com segurança a essas pacientes”, detalha a psicóloga.
As condições de segurança mencionadas estão relacionadas à boa procedência do açaí e à pasteurização do produto, que garante que qualquer microorganismo seja eliminado, evitando problemas de saúde a quem vai consumir, que no caso são as pacientes vítimas de escalpelamento não hospitalizadas. Além disso, outros cuidados são tomados pela Santa Casa, para que além de prazerosa, a ingestão do açaí não afete o consumo de outros alimentos, necessários à saúde e recuperação tecidual das pacientes, explica Ciléa Ozela, gerente de nutrição da Santa Casa.
“Apesar de culturalmente o açaí ser muitas vezes consumido como prato principal pelos paraenses, nutricionalmente ele é considerado um complemento. Por isso, as pacientes estão recebendo uma porção pequena de açaí, que vai junto com a dieta do dia e não podem deixar de fazer uma refeição para consumir apenas o açaí. Além disso, esse açaí não pode ser in natura, mas sim, o pasteurizado, que evita qualquer contaminação. Mas mesmo com essas adaptações, nós temos recebido o retorno de que as pacientes estão adorando a novidade ”, afirma a nutricionista.
Para Larisse Cardoso, de 21 anos, moradora de Breves, que sofreu o acidente de escalpelamento aos 8 anos e desde então vem com frequência à Santa Casa, em Belém, para acompanhamento, receber o alimento, mesmo que em uma pequena porção, deixou as refeições muito mais alegres.
“Lá em Breves, onde eu moro, a nossa alimentação depende do açaí, pois se não tiver o açaí a gente não almoça, não janta, porque come ele junto com o restante da comida e se não tiver, a gente não come. A comida não tem graça e não enche, porque a gente é acostumada a comer assim desde criança. E antes, quando não tinha o açaí, eu até emagrecia, porque não conseguia me alimentar direito. E quando cheguei, dessa vez, aqui no Espaço Acolher, que eles começaram a entregar o açaí, eu amei a ideia, foi maravilhoso!”, comemora Larisse.
Por enquanto, as porções de açaí são disponibilizadas apenas às pacientes vítimas de escalpelamento não hospitalizadas, que ficam hospedadas no Espaço Acolher da Santa Casa. Elas recebem porções de 200 ml de açaí, junto com as refeições servidas às segundas, quartas e sextas-feiras.
Texto:Etiene Andrade/Ascom Santa Casa
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