Por Fred Gomes — Rio de Janeiro
O Flamengo perseguia desde o início do ano uma atuação que fizesse seu povo voltar a colocar o time no colo de novo. Demorou, mas aconteceu e abalou. Os 7 a 1 sobre o Tolima lavaram a alma de uma torcida que clamava por uma dupla de ataque com os melhores finalizadores do elenco. Uma noite para levantar gigantes no campo e na arquibancada.
Pedro, com os holofotes voltados para si e auxiliares de Tite no Maracanã, retransformou seu patamar no elenco e dentro do futebol nacional. Quatro gols, "duas assistências" - o segundo gol foi de Quiñones contra, mas ele deixou Gabigol livre para bater - e a prova de que ele e o camisa 9 podem, sim, jogar juntos.
- Quando vim para o Flamengo, tinha isso na minha cabeça, de que com certeza Pedro e Gabriel jogariam. Tive Gabriel no Santos com Ricardo Oliveira. Por que não com o Pedro? É uma questão de participação e conscientização de cada um. Cumprindo funções, eles poderão fazer o que bem entendam - disse Dorival, após o jogo.
Não é preciso falar muito de Pedro e nem de tática para dizer quem foi o dono da noite. Além da participação direita em seis gols, distribuiu passes de letra e mostrou que tem bola e resultados para ser titular do time. Reafirmou a condição de centroavante ímpar no Brasil.
Arrascaeta também desperta
A goleada também devolveu a Arrascaeta sua posição de grande protagonista em 2022. Era, ao lado de João Gomes, um dos principais destaques na equipe da temporada, mas acumulou jogos discretos nas últimas rodadas.
Na noite de quarta-feira, foi fundamental nos quatro primeiros gols. Começou aproveitando a movimentação de Pedro, com quem tabelou e colocou na cara de Cuesta logo aos quatro minutos. No segundo, com jogo de corpo que poucos têm, tirou Lucumí e Ureña antes de achar Pedro, que entregou para Gabigol de calcanhar.
No terceiro, botou a bola na cabeça de David Luiz, o garçom de Pedro na jogada. No seguinte, puxou a marcação de Moya e abriu um clarão para Gabi vencer Cuesta. Fundamental.
E Everton Ribeiro: onde aparece?
Everton Ribeiro não deu assistências e terminou como o rubro-negro que mais errou passes em campo (sete). Os fanáticos por números poderiam falar em atuação ruim, mas quem prestou atenção ao jogo, jamais.
O camisa 7 é o homem que constrói as jogadas dos gols do primeiro tempo. Mais do que os gols, porém, ele já vinha quebrando a marcação adversária com tacadas. Aos 16 minutos, por exemplo, tirou três rivais da jogada com um toque de direita para Rodinei. Pouco depois, com um corta-luz na intermediária ofensiva, também deixou os adversários em parafusos.
Mais uma vez recompôs com qualidade e soube conduzir a transição da defesa para o ataque.
Gabigol não merece menção?
Mesmo em um ano aquém em relação às três temporadas anteriores, Gabigol segue com números expressivos. São 20 gols, duas assistências e participação concreta em todos os jogos decisivos do Flamengo.
Se não foi o protagonista do jogo apesar de toda a sua atuação, terminou como o maestro da torcida. Conhecedor como poucos dos fãs que tem, com pulos e a camisa rodada sobre a cabeça, fez os rubro-negros comprarem a narrativa de que o Atlético-MG conhecerá o inferno na próxima quarta-feira.
Gabriel sabe jogar. Com o time, em diferentes posições e com a torcida. Conhece o jogo como poucos.
Os demais
O Flamengo também teve gigantes na zaga. Um, destaque no Athletico-PR e com acúmulo de erros desde a chegada à Gávea, tenta provar que não é grande apenas no tamanho. Léo Pereira jogou bem mais uma vez e fez por merecer a titularidade. David Luiz, cujo nome atravessa fronteiras, também foi seguro e até toque de letra deu no campo de ataque - não que seja uma dificuldade para ele.
Os volantes tiveram atuação sem questionamento, Thiago Maia foi o mais combativo e participativo da dupla com João Gomes.
Alguém ouviu falar de Filipe Luís? Não, mas a silenciosa atuação foi suficiente para evitar sustos. Com dois passes errados em 42 tentados teve o melhor aproveitamento entre os titulares - 95%, ao lado de Maia.
Gigantinhos
A garotada também não passou em branco na goleada. Victor Hugo entrou e manteve o bom nível, mais uma vez mostrando que pode fazer seu nome na Gávea. Matheus França, que andou sumido por conta de uma grave contusão na fíbula, fez questão de remarcar seu território. Tocou quatro vezes na bola, não errou nenhum passe e botou uma para dentro do gol.
Sem papo tático
A robusta goleada não carece de detalhada análise tática. Os gigantes despertaram. Pedro mostrou que não pode ser mais ser reserva, Arrascaeta e Everton voltaram a ser protagonistas, e Gabigol manteve a fama de jogador que dá a cara.
A vitória não fez apenas jogadores reaparecem, mas também reconectou uma torcida em busca de grandes jornadas à equipe. O desânimo das rodadas passadas e as vitórias protocolares folgaram nessa quarta-feira.
No próximo domingo, em Itaquera, o Flamengo tem mais um grande jogo a disputar. Alguém duvida em vitória após as quatro seguidas sobre América-MG, Santos e Tolima (duas vezes)? Até a falta de efetividade foi limada numa noite em que o time botou para dentro sete das 16 bolas que finalizou. Em que Pedro guardou quatro das seis que tentou.
E acreditem: segundo o Footstats, Pedro e Gabigol só deram um passe para o outro. O 21 tocou para o 9 errar a finalização que terminou no gol contra de Quiñones, enquanto Gabi achou Pedro na entrada da área em jogada que este tocou em Rodinei e apareceu na pequena área para finalizar de cabeça e fazer o quinto gol.
Mín. 22° Máx. 34°