Por Douglas Ceconello
Era de se esperar que uma equipe pragmática e competitiva, que apresenta desempenho invejável quando joga em casa, conseguisse ao menos fazer frente ao renascido Flamengo. E, de fato, o Corinthians conseguiu jogar em condições de igualdade -- durante os quinze primeiros minutos. Depois disso, o que vimos na noite paulistana, pela primeira partida das quartas de final da Libertadores, tratou-se de um verdadeiro baile flamenguista em Itaquera. No fim das contas, o placar de 2 a 0 para os cariocas acabou comemorado por todos: para os flamenguistas, pois a vitória havia sido incontestável; e para os alvinegros, porque o tombo poderia ter sido maior.
Já não era horário de matinê, mas o evento que vai entrar para a história como O Bailinho de Dorival Júnior transcorreu embalado pelos mais diferentes ritmos, talvez desde Noel Rosa até Cidinho e Doca, porém começou a estourar de fato quando a pista tremeu com a murga uruguaia contemporânea y cosmopolita que lateja nos espíritos rubro-negros cada vez que Arrascaeta pega na bola -- especialmente quando ele pega na bola daquele jeito, fazendo esvoaçar fogos de artifício pelas redes de Cássio, naquele momento um gigante esfarelado.
Quando o menino Giorgian colocou a bola na gaveta com todos os venenos possíveis, o Flamengo já era senhor absoluto do jogo -- e assim seria para todo o sempre, até o fim da noite. Com uma atuação defensiva sólida e dois volantes que carregam o piano (mas o carregam com carinho), Arrascaeta e Everton Ribeiro ficaram à vontade para tocar flauta no meio-campo e construir a vitória que deixa o caminho aberto rumo às semifinais. O Corinthians teve problemas defensivos com a dupla Balbuena e Bruno Méndez e, depois do primeiro gol carioca, não conseguiu retomar o padrão dos primeiros minutos. O meio-campo sucumbiu e Yuri Alberto e Roger Guedes não se achavam -- dois estranhos tentando engatilhar um bolero. O time inteiro definhou, a Arena murchou e o bicampeonato continental hoje é tão real quanto um samba composto por Mozart.
Apesar da atuação deficiente, a responsabilidade não é totalmente da equipe de Vítor Pereira. Quando o técnico flamenguista achou necessário dar novos ares à equipe, mandou para o campo Vidal e Cebolinha, enquanto o Corinthians tentava acionar hologramas de Sócrates e Marcelinho Carioca. E a mensagem que essas próprias opções passam é que o Flamengo, com os nomes que tem e um treinador competente, vai passar por cima de quase todo mundo -- apenas Atlético-MG e Palmeiras são antagonistas de fato, tanto no Brasil quanto na América do Sul. O renascido Flamengo de Dorival Júnior é candidato às duas copas e, numa brecha qualquer do rival alviverde, também ao Brasileiro, pois hoje não apenas joga como quem dança, mas dança como quem vê pela frente a cancha aberta.
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