O som da marcha nupcial tomou conta de uma parte do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV), em Belém, nesta terça-feira (5). Em um momento raro na rotina do HC, um paciente do pré-operatório para cirurgia cardíaca realizou o sonho de oficializar um relacionamento de quase 30 anos. Sem atrasos, diante de um pastor, amigos, pacientes e profissionais do Hospital, Johnny Kleyton Mckinley, 58 anos, recebeu a noiva, Josane Lima Carlos, 49 anos, para o casamento civil e religioso.
A cerimônia oficializou uma união que começou em 1994, em uma data simbólica: 12 de Junho, Dia dos Namorados. Johnny já estava morando há um ano em Belém, aonde chegou vindo do Rio de Janeiro para trabalhar como técnico em eletricidade na construção do primeiro shopping center da capital paraense.
Na época, Johnny era celibatário convicto, mas sempre acreditou nos propósitos da vida. E foi assim quando conheceu Josane. "Ela tinha 22 anos. Quando a vi pela primeira vez, tive certeza que poderíamos ser felizes juntos", contou o noivo.
O retorno- O final da obra do shopping significava também o retorno à capital carioca, em 1998. Natural do município de Mãe do Rio, Josane só seguiria com o companheiro após a bênção dos pais, o que veio no ano seguinte. O casal retornou ao Pará em 2011, fazendo escala em Belém e seguindo para Parauapebas, onde Johnny foi trabalhar em uma mineradora.
Em 2017, Johnny e Josane retornaram definitivamente a Belém. A família, nesse momento, já contava com Johnny Kleyton Mckinley Jr. e Jeremy Kennam Mckinley, hoje com 10 e 3 anos, respectivamente.
O mais velho começou a fazer acompanhamento médico após diagnóstico de autismo. No mesmo local, um exame de rotina, oferecido aos pais das crianças, detectou que o coração de Johnny não estava bem. Em um cateterismo foi constatado que, ao longo dos anos, ele havia sofrido vários pequenos enfartes, comprometendo o sistema cardiovascular. A intervenção cirúrgica era necessária e urgente.
Com a internação no Hospital de Clínicas, havia uma questão a resolver: o casamento estava marcado para o dia 2 de outubro, em Icoaraci, distrito de Belém. O noivo tentou a saída. "Mas o médico não autorizou, inclusive enfatizando que o risco de uma parada cardíaca estava dobrando a esquina", lembrou Johnny.
Com o casamento adiado, e equipe biopsicossocial do HC fez o que foi possível para realizar o sonho de Johnny. "Nos envolvemos até onde era possível para que esse momento acontecesse, com todo o cuidado necessário", contou a psicóloga Simone Pampolha.
A profissional explicou como esse tipo de iniciativa pode favorecer o tratamento. "Infelizmente, doenças podem surgir em qualquer fase da vida de uma pessoa. Pode ser no início, no fim ou no meio, e em todas elas o paciente tem sonhos a realizar. Nesse caso, o paciente tinha o sonho e o planejamento de casar, mas acabou vindo parar na urgência do hospital. Quando soubemos, nosso desejo era que ele pudesse viver não apenas o sonho, mas a vida", ressaltou a psicóloga.
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