A sensação ao final dos primeiros 90 minutos da decisão da Copa do Brasil era de que nenhum dos lados estava exatamente frustrado. O Flamengo, porque embora superior por mais tempo no jogo de Itaquera, levava a decisão para o Maracanã. O Corinthians, por sua vez, vai ao Rio numa situação muito melhor do que enfrentou na Libertadores, quando saiu de seu estádio com dois gols de desvantagem. Além disso, diante de um adversário fortíssimo, a equipe de Vítor Pereira fez com que a partida confirmasse a impressão de que a diferença entre os dois times diminuiu desde o confronto de dois meses atrás. Os donos da casa tiveram seus momentos para tentar vencer.
Não é correto dizer que os dois times não se agrediram, mas também é fato que moderaram riscos. O que não surpreendeu foram os caminhos pelos quais cada equipe tentou encontrar o gol: o Flamengo pelo centro, o Corinthians pelos lados.
O começo de jogo teve um Flamengo melhor na tentativa de aproximar seus jogadores e trocar passes curtos para entrar na defesa adversária. Foi assim que Filipe Luís achou Pedro, que infiltrou mas finalizou sob a pressão de Cássio. Era um domínio que perdurou até o Corinthians ajustar a marcação contra um time rubro-negro que concentrava até excessivamente as suas jogadas pelo centro do campo.
Outra arma do Flamengo era, quando pressionado, tentar acionar Pedro diretamente. Fosse com o goleiro Santos, ou mais tarde com David Luiz, que encontrou bonito lançamento em um dos primeiros lances da etapa final. Pedro procurava duelar com Fágner, para vencer na estatura. Conseguiu vantagem. O Corinthians tentou fazer Gil acompanhá-lo em alguns momentos, e o zagueiro foi muito bem no jogo. Num dos primeiros lances do jogo, a bola longa terminou em chute de Gabigol. Mais adiante, um desarme de João Gomes resultou em oportunidade para o mesmo Gabigol. O Flamengo pesava mais na balança do jogo.
O Corinthians, hoje muito mais evoluído do que há dois meses, segue vivendo um dilema entre intensidade e qualidade técnica. Nem sempre é simples reunir as duas coisas numa mesma escalação, reflexo da montagem do elenco, seja pela faixa etária em alguns setores ou pelas características dos jogadores. A partir da metade do primeiro tempo, o time ajustou a marcação na frente da área, conseguia sair de trás e ensaiava aproveitar o que o Flamengo tem de mais vulnerável: a marcação pelos lados do campo. A ideia corintiana era inverter rapidamente a bola, alternar o lado, mover entre corredor central e lateral. Andou perto de construir finalizações assim, e Renato Augusto teve uma bola preciosa pela meia esquerda. No entanto, os donos da casa assustaram mesmo num erro de Léo Pereira. Yuri Alberto só não transformou em gol pela cobertura precisa de Thiago Maia.
Veio o segundo tempo e o dilema corintiano se apresentaria de forma mais clara. Seu meio-campo foi perdendo vitalidade e capacidade de retomada de bola. O time perdeu defensivamente e ofensivamente, porque defesa e ataque não são departamentos isolados: ao combater menos, atacava menos. O Flamengo conseguia reter a posse, circular, ainda que procurasse não precipitar passes para não ceder o contragolpe. Tampouco encontrava tanto os avanços de Rodinei pela direita, talvez por preocupação com Róger Guedes. O jogo era quase todo pelo meio. Ainda assim, Gabigol andou muito perto de abrir o placar e obrigou Cássio à grande defesa da noite. David Luiz acertou a trave, Éverton Ribeiro foi outro a parar em Cássio.
Pode ter causado estranhamento quando Vítor Pereira chamou Giuliano e Mateus Vital para ocuparem as vagas de Róger Guedes e Renato Augusto. Olhando apenas para a qualidade com bola, haveria uma perda. Mas o Corinthians melhorou porque passou a ter mais competitividade, a recuperar bolas e, por consequência, a gerar volume de jogo. Algo que o Flamengo perdera com a entrada de Vidal no lugar de João Gomes.
O fato é que o Corinthians voltou a ter seus momentos. E a chance desperdiçada por Giuliano, novamente, remete a um time que tinha bem definidas suas rotas de ataque. O jogo pendia para o lado do campo – neste caso, o esquerdo -, obrigando um dos meias do Flamengo a se deslocarem e, por consequência, abrirem espaço na frente da área, pelo meio. Foi onde Giuliano recebeu e chutou com perigo. É o risco a que habitualmente o Flamengo se submete com apenas três homens marcando à frente da linha defensiva.
No fim, o gol não saiu. E cada lado poderá enxergar o 0 a 0 a seu modo. O Flamengo, que criou mais, pode argumentar que terá a seu favor o Maracanã e a confiança reforçada por um jogo que manteve a sensação de que há mais recursos técnicos do lado rubro-negro. O Corinthians, por sua vez, pode dizer que, no desafio que mais colocava à prova a sua evolução, o crescimento do time ficou claro: há muito mais argumentos para enfrentar o Flamengo do que há dois meses. Ninguém sai de mãos vazias.
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