Na presidência temporária do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil tenta construir um consenso na aprovação de uma resolução para proteger os civis no conflito entre Israel e o Hamas. Trata-se de uma missão difícil para a diplomacia brasileira. Nesta terça-feira, o Conselho retoma a discussão e vota a proposta apresentada pelo governo Lula.
A reunião de ontem do Conselho, na sede da ONU, em Nova York, rejeitou uma proposta de resolução da Rússia, que pedia um cessar-fogo imediato e condenava Israel pela morte de civis em Gaza. A proposta russa não citava o Hamas, nem os ataques terroristas de 7 de outubro no território israelense. Mesmo sabendo que o texto seria vetado, os russos insistiram na votação.
Já o documento apresentado pelo Brasil teve a votação adiada para hoje. O texto, que também incluía um cessar-fogo para a organização de um corredor humanitário, teve essa parte suprimida na tentativa de acordo. Deve sofrer mais alterações para evitar o veto, seja dos americanos, seja dos russos.
Entre os pontos elencados pela proposta brasileira, está a condenação "inequívoca dos ataques terroristas hediondos perpetrados pelo Hamas que tiveram lugar em Israel a partir de 7 de outubro de 2023 e a tomada de reféns civis".
Sem citar o Hamas, o documento exige a "libertação imediata e incondicional de todos os reféns civis, exigindo a sua segurança, bem-estar e tratamento humano, em conformidade com o direito internacional".
Por fim, a delegação brasileira faz um apelo "ao respeito e à proteção, em conformidade com o direito humanitário internacional, de todo o pessoal médico e do pessoal humanitário exclusivamente envolvido em tarefas médicas, dos seus meios de transporte e equipamento, bem como dos hospitais e outras instalações médicas";
Sem indicar medidas mais concretas como uma missão de paz ou uma intervenção, o documento brasileiro apenas apela "a pausas humanitárias para permitir o acesso humanitário rápido, seguro e sem entraves às agências da ONU".
A costura da resolução sobre o conflito Israel e Hamas será o maior desafio do Brasil no seu mandato de 30 dias à frente do Conselho de Segurança da ONU. O colegiado não tem conseguido aprovar resoluções em função da polarização entre os membros permanentes (com direito a veto) do bloco ocidental, Estados Unidos, Reino Unido e a França e os membros do bloco oriental, Rússia e China.
Inicialmente a proposta era votar os dois textos, o russo e brasileiro, ontem. Mas, sem acordo, o embaixador brasileiro na ONU, Sérgio Danese, adiou a votação da proposta brasileira para hoje para assim tentar negociar um acordo nos termos da resolução.
Risco de veto
O documento do Itamaraty deve buscar acomodar, de forma discreta, a condenação a Israel por ataques contra civis pedida pela Rússia, isso sem incomodar os Estados Unidos. Para os americanos Israel tem todo o direito de se defender, inclusive atacando o Hamas nos territórios palestinos da Faixa de Gaza.
Logo após a rejeição do texto russo, os países membros e convidados na reunião se manifestaram. Uma das primeiras a falar, a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, deu o tom da posição estadunidense. "O Hamas deve liberar incondicionalmente os reféns e facilitar o acesso humanitário", disse a embaixadora. "Apenas uma semana atrás o terror foi liberado em Israel pelo Hamas. Foi o pior massacre ao povo judeu desde o Holocausto", completou comparando o Hamas ao Estado Islâmico (ISIS) e a Al-Qaeda.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, foi além e disse que a única solução para uma ideologia terrorista e genocida é o extermínio. Comparando o Hamas a um "Hitler com esteroides", Erdan voltou a afirmar que Israel não está agindo por vingança ou retaliação, mas por sobrevivência e criticou a ONU.
"Nos últimos 17 anos a comunidade internacional e a ONU têm sido complacentes com o Hamas", disse e garantiu que um cessar-fogo só se inicia depois da organização entregar todos os reféns que mantém na Faixa de Gaza.
Já o embaixador da Autoridade Palestina na ONU, Riyad Mansour, elogiou os esforços brasileiros e fez um apelo pelo cessar-fogo. "O que está acontecendo em Gaza, não é uma operação militar, é um verdadeiro assalto contra o nosso povo. Israel matou até agora 3 mil palestinos. Mais de mil crianças palestinas foram mortas até agora", disse Mansour.
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