Há 17 anos, no longínquo 2005, Canaã dos Carajás dava os primeiros passos para se tornar a potência mineral que é hoje. A população era metade da estimada hoje, o projeto Sossego começava a produzir em larga escala e muita gente de várias regiões do Brasil desembarcava aqui com roupas, sonhos e algumas sementes na bagagem. Tudo era novidade ainda e não se tinha muita ideia do que o futuro reservava para uma terra tão jovem.
Uma das pessoas a desembarcar na Terra Prometida foi Maria Jaciara de Souza. A convite de seu pai, pioneiro do município, chegou a Canaã dos Carajás para atuar como professora e fez o seu papel como educadora de crianças e jovens. Entre seus alunos, pessoas de referência na sociedade de Canaã, como membros da política e empresários locais.
Com o coração cheio de projetos e sonhos, Jaciara foi convidada a liderar um projeto de fomento a artesãos do município. A ideia era incentivar mulheres e homens a trabalhar em áreas como corte e costura, bordado, crochê, serigrafia, pintura em tela, macramê e muito mais áreas. Com isso, por meio de uma troca de experiências, todos aprenderiam mais sobre as áreas e poderiam ganhar dinheiro vendendo a produção em conjunto. Nascia ali a Associação de Artesãs e Artesãos Solidários de Canaã dos Carajás.
Como todo projeto de sucesso, a associação teve dificuldades em seus primeiros anos. “A verdade é que não tinha emprego para todos em Canaã. Então, fizemos uma pergunta simples: ‘O que você sabe fazer?’. Então, uma pessoa foi ensinando a outra o que sabia e todos aprenderam. Cada pessoa tem um saber e isso foi fundamental. Mas não foi fácil, precisamos mudar nossa sede algumas vezes e tivemos problemas” explicou Jaciara, que é coordenadora da associação.
De acordo com ela, a entidade hoje conta com apoio da Prefeitura e da Câmara de Vereadores; a Vale também é parceira. “De 2018 para cá, começamos a buscar mais apoio para estruturas, professoras, entre outros suportes. A Vale, por exemplo, as nossas primeiras máquinas foi a empresa que ajudou. Hoje nós temos o Termo de Fomento, temos inclusive um carro já para nos ajudar nesse trabalho.”
A associação trabalha com um princípio: “Todo mundo sabe alguma coisa e todo mundo pode aprender um pouco mais sobre outra coisa.” É dessa forma que as ações têm sido desenvolvidas nos últimos 17 anos. Dentro da associação, tudo é compartilhado, até mesmo o almoço. De forma coletiva, a comida é dividida de forma igual entre os 60 associados da entidade. Todo mundo que trabalha come a sua porção do que há de melhor – é a solidariedade e o cooperativismo em sua mais ampla expressão.
Mas partilha não para por aí. Toda a produção dos artesãos é vendida em pontos estratégicos do município. Após isso, os lucros são igualmente repartidos entre todos os associados. Assim, cada artesão tem a sua arte valorizada, inclusão no mercado de trabalho e, claro, mais dinheiro no bolso. Trata-se de uma profunda e irreversível transformação social.
Entre os cursos recentes ofertados pela associação, está o Empreendedorismo Criativo, que teve a primeira turma formada na semana passada. “Nós queremos despertar nas pessoas a vontade de empreender. Esse é o nosso principal objetivo. Nós queremos que as pessoas produzam, vendam e tenham o seu próprio dinheiro. É independência financeira para pessoas que precisam.”
Mas os sonhos e as sementes de Juciara não param por aqui, apesar de todo o sucesso e a mudança social que a associação tem provido no município. “Eu quero que todas essas pessoas tenham acesso a mais renda para que possam realizar seus sonhos. Quero que tenham seu carro, sua motocicleta, educação de qualidade. Nós cuidamos do ser humano que está ali e queremos o melhor para eles. Então, é todo mundo junto de mãos dadas.”
Em 2022, após dois anos de pandemia, o grupo de artesãs e artesãos deve participar de uma das maiores feiras de economia solidária do Brasil, que fica na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul. Além de realizar sonhos e promover mudanças, a associação pensa grande e já exporta o talento local para os confins do Brasil
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